quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Aflição de um jovem poeta



Ele: Livro de poesia
é como
teia de aranha.

Ela: Prende a folha, prende a chuva,
rehidrata a sobrevida.

Ele: É coleta de sangue,
balanço de suor, colcha de pranto,
esperma, linfa, baba,
é mordida, auto-defesa.

Ela: Mas, pelo design,
espantosa, delicada geometria ...

Ele: Estrela, sistema solar,
mandala no ar, exágono de êxtases.

Ela: ... sujeita a riscos,
vendavais, tempestades,
pedras e lava,
e críticos impérvios.

Ele: O analfabeto rasga.
O cego pisa.

Ela: E a mãe conserva,
entre pétalas de rosa
e penas caídas,
azuis, de periquitos.


Adelaide Petters Lessa