sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A tempestade

George Romney_William Shakespeare-TheTempest Act I,Scene1

É com valor como esse que os humanos se enforcam e se afogam. Loucos todos! Eu e meus companheiros somos servos do Fado. Os elementos de que vossas espadas são compostas, poderiam tão bem ferir os ventos sibilantes, ou matar com pancadas irrisórias as águas que não cessam de reunir-se, como estragar de leve uma penugem, sequer, de minhas asas. Igualmente invulneráveis são meus companheiros. Mas embora pudésseis fazer algo: ora as vossas espadas se tornaram muito pesadas para vossas forças; não as levantaríeis. Mas lembrai-vos? que esta é a minha incumbência neste instante? que vós três o bom Próspero expulsastes de Milão, entregando-o, e sua filha, ao mar que ora vos pune. Foi por esse feito facinoroso que as Potências? que tardar podem, mas jamais esquecem? contra vosso sossego concitaram tantos mares furiosos, tantas praias, sim, todas as criaturas. De teu filho, Alonso, te privaram. Pela minha voz te anunciam destruição morosa, pior do que qualquer modalidade de morte repentina, que vos há de passo a passo seguir por onde fordes. Para vos preservardes dessa cólera? que sobre vós há de cair sem falta nesta ilha desolada? só de auxílio vos será contrição muito sincera e, de ora em diante, uma existência pura.

William Shakespeare