sábado, 7 de agosto de 2010
Nicolas Ségur, O leito conjugal (4)
O ser humano é campo de mil sementes imponderáveis que grelam, amadurecem nele sem que o suspeitemos. Ignoramos os outros, mas talvez nos ignoremos a nós mesmos ainda mais. Crendo ter vida estabilizada, sentimentos duráveis, faculdades de julgamento, estamos na realidade à mercê de uma porta que se abre, de uma lufada de temporal, da expressão de dois olhos, da luz de um sorriso, e demais, de nossas hereditariedades, de nossos ímpetos, de vagos instintos, desse infinito de elementos que se agitam em nós e fora de nós. [...] Acontece, às vezes, que encontramos assim um rosto que é como resposta a um sonho que ideávamos, a um desejo recôndito, a uma aspiração latente. Os quatro olhos cruzaram-se, e os olhares entraram nos seres como um fermento, como uma obsessão, como um mal.
Nicolas Ségur, O leito conjugal