terça-feira, 24 de agosto de 2010


É bom ouvir a conversa de duas pessoas inteligentes como Umberto Eco e Jean-Claude Carrière. O Eco é mais conhecido: "O nome da rosa" e os ensaios sobre semiologia. Já o Carrière além de escritor, fez filmes com Buñel e ambos colecionam livros raros. Vocês podem participar desta conversa, como se fosse um Big Brother, só que devem abrir o livro "Não contem com o fim do livro"( Ed. Record). Os dois trocam idéias sobre as mais variadas coisas. E sempre com bom humor, como ao citar a frase de um humorista búlgaro Karl Valentin: "O futuro era melhor antigamente".

Eis algumas frases engraçadas e intrigantes tiradas daquele livro:

"Onde enfiaram o presente?"- JCC

"Foi preciso quase um século para as galinhas aprenderem a atravessar a rua"- UE


Umberto Eco revela que na juventude leu os livros da Coleção Scala D'oro e só adulto descobriu que tais romances eram modificados e terminavam bem. Em " Os Miseráveis ", de Victor Hugo, por exemplo," Javert não se mata, se demite.


Por sua vez Jean Claude Carrière revela que nas traduções do Abade Delile, Hamlet não morre.


"Nunca se escreveram tantos versos e tão poucos poemas. Nem sequer unzinho durante mais de um século", -diz JCC comentando o período da literatura francesa entre Racine e o Romantismo.

Qualquer semelhança com nossa época é mera coincidência.


"As três grandes civilizações do romance são incontestavelmente a França, a Inglaterra e a Russia"- UE.


"Durante a época em que Napoleão exerce o poder absoluto ,isto é, entre 1800 e 1814, não há um único livro publicado na França que seja lido nos dias de hoje" -JCC.


"Como a Cidade do México situa-se a 400 quilômetros de cada oceano, eles faziam um revezamento de corredores, que traziam o peixe fresco à mesa do imperador em menos de um dia. Cada um deles corria 400 ou 500 metros, depois passava sua carga"-JCC


"Ë o meu caso: coleciono, como já disse, tudo que se refere à ciência falsa, charlatana, oculta, bem como às línguas imaginárias"(...)sou fascinado pelo erro, pela má fé e pela estupidez"- UE


"Na " Poética", Aristóteles cita umas 20 tragédias que não conhecemos mais. O âmago do problema é: por que apenas as obras de Sófocles e Eurípedes subsistiram? Eram as melhores, as mais dignas de passar a posteridade?- UE


"É absolutamente necessário que, associado ao ato de criação, haja um mistério. O publico exige isso. Senão, como Dan Brown ganharia a vida"- UE.


"Porém, de 1933, data da chegada de Hitler ao poder, à morte de Stalin, vinte anos depois, contamos no nosso planeta perto de 100 milhões de mortes violentas" -JCC


"A burrice é uma forma de administrar a estupidez com orgulho e assiduidade" -UE


"Picasso admitia que também podia fazer Picassos falsos. Inclusive gabou-se de ter feito os melhores Picassos falsos do mundo" -JCC


"É incrivel que , no pais mais filosófico do mundo, a Alemanha, não ensinem filosofia no liceu"-UE


"O Holocausto teria sido possível se a internet existisse?" -UE


"Sem eletricidade está tudo irremediavelmente perdido. Em contrapartida , ainda poderemos ler livros, durante o dia, ou a noite à luz de uma vela, quando a herança audiovisiual tiver desaparecido"-JCC


Affonso Romano de Sant'Anna