sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


Fala mais alto. Poucas coisas te peço e tão pequenas. Tens a faca, abre já te disse. Usa esse de nove miligramas, esse que acaba com o todo. Alguma coisa deves renunciar, luta comigo. Tenta. Quem sabe se  me enganas, falas do teu esforço, mas não estás deitado? Usa a linguagem fundamental, usa o esteio, o formão sobre o cobre, usa o teu sangue, estás me ouvindo? Isso é matéria moldável, não é nada, estás subindo acima do que entendo, te espraias, estás me comprimindo, onde é que tens a cabeça? Sou teu nervo. Com ele, toco o infinito. Não sei da garganta. Fica ao redor de ti? Apenas canta? Me louva? Então come de mim, me comendo me sabes. Não medita. Suga. Vai até a seiva, até a sutileza. Pesas como palha, não te escuto. Abre um caminho, abre outro, tenta, eu disse seiva sim, eu disse suga sim, eu disse come de mim. Ainda me escutas? Disseste PALAVRA? Cada vez mais, menos te entendo, agora flutuas. Te aborreces, se eu digo que em mim, tens o peso da pluma? Ainda me lembro: pluma, peso, saíram da minha fronte, resguardei-os do medo, queriam subir, entendia SUBIDA, dei-lhes o meio, construção mais rara, agora tu dizes que alguns se devoram? Comem de si mesmos? Se são iguais devem afastar-se, devem procurar aqueles do outro lado, conviver com o que tu chamas AMARGO, APARÊNCIA.


Hilda Hilst