quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

 Fabian Perez.

É exatamente o que me contava, há muito tempo, aliás, um médico — observou o stariéts. — Era um homem de idade madura e verdadeiramente inteligente, exprimia-se tão francamente como a senhora, se bem que brincando, mas com tristeza. “Eu amo — dizia ele — a humanidade, mas admiro-me de mim mesmo. Tanto mais amo a humanidade em geral, quanto menos amo as pessoas em particular, como indivíduos. Muitas vezes tenho sonhado apaixonadamente em servir à humanidade, e talvez tivesse verdadeiramente subido ao calvário por meus semelhantes, se tivesse sido preciso, muito embora não possa viver com ninguém dois dias no mesmo quarto. Sei-o por experiência. Desde que alguém está junto de mim, sua personalidade oprime meu amor-próprio e constrange minha liberdade. Em vinte e quatro horas, posso mesmo antipatizar com as melhores pessoas: uma, porque fica muito tempo na mesa, outra, porque está resfriada e só faz respirar. Torno-me o inimigo dos homens, apenas se acham eles em contato comigo! Em compensação, quanto mais detesto as pessoas em particular, tanto mais ardo de amor pela humanidade em geral.

Fiódor Dostoiévski, in Os Irmãos Karamazov