Há uma profunda tristeza em meus cantos,
ultimamente e eu gostaria de saber dizer.
Há um enorme vazio em meus olhos,
como se a luz inesperadamente apagasse
ou como se o tempo subitamente parasse
e não soubesse, assim tão de repente, o que fazer.
Há um certo frio nos ossos e no coração,
como se a pele que os ocultasse, acinzentasse,
num feitio desesperançado e mórbido, nem choro
nem gozo em dias que se arrastam intermináveis.
Há um grito que não explode na garganta,
não há passos me entregando a algum lugar.
Há, sobretudo, insensibilidade, a falta absoluta
de algum sentido, uma absurda nulidade de haver,
numa sobra de tempo que acovarda.
Gisele Temper
Gisele Temper