quinta-feira, 4 de abril de 2024

UM POEMA




Em plena luta de classes

escreveu um poema de amor.


Acossado pela fome de justiça

escreveu um poema de amor.


Entre a tortura e a morte

escreveu um poema de amor.


Entre o sangue e as balas

escreveu um poema de amor.


um poema de amor para ninguém,

para uma mulher que não existia.


Agora,

amado até à raiz da sua sombra

por esta mulher que lhe beija as feridas,


agora,

que na noite gelada ela o cobre com o seu corpo nu,

arma-se com papel e lápis

salta da cama

e sem perturbar o sono da sua amada

escreve um poema social


um poema estremecido por lutas e batalhas

um poema por cujos versos passam

pedindo justiça

as massas camponesas e operárias.


Joaquim Pessoa