Em plena luta de classes
escreveu um poema de amor.
Acossado pela fome de justiça
escreveu um poema de amor.
Entre a tortura e a morte
escreveu um poema de amor.
Entre o sangue e as balas
escreveu um poema de amor.
um poema de amor para ninguém,
para uma mulher que não existia.
Agora,
amado até à raiz da sua sombra
por esta mulher que lhe beija as feridas,
agora,
que na noite gelada ela o cobre com o seu corpo nu,
arma-se com papel e lápis
salta da cama
e sem perturbar o sono da sua amada
escreve um poema social
um poema estremecido por lutas e batalhas
um poema por cujos versos passam
pedindo justiça
as massas camponesas e operárias.
Joaquim Pessoa