amiga, tu não cabes num poema. esse dou a quem manda meu orgulho. ali os versos são medidos, são de propósito, mas tu me dás o verso inesperado. assim me apraz, assim eu gosto. me conversas, te converso, dizes coisas tuas e me levas coisas minhas, assim, sem que um peça, sem que o outro se obrigue.
se a esse porto nos foi fácil a atracação, dizer que não é escusado, porque sabes que não. muitas vagas e tormentas, vírgulas e reticências, pontos de interrogação —areia, pedra e cimento—, fizeram esse, teu e meu, nosso momento, onde um —capricho do acaso, sabe do outro.
se nesse porto faz-se aconchegante o cais, dizer que sim é redundante, porque sabes que sim. risos recortando papos sérios, e aquela saudade de ouvir quando há pouco já ouvidos mutuamente —areia, pedra e cimento—, fazem esse, teu e meu, nosso momento, onde um —não por acaso, cuida do outro.
mas dizia que não cabes num poema. não porque os faço com compasso, tiro o prumo, ponho esquadro e tudo mais. não.
porque és sublime.
e porque és sublime, dou-te as mãos que escrevem os poemas. os olhos que os leem. os ouvidos que ouvem os poemas ainda no devir. dou-te o cheiro dos poemas. e os lábios que os dizem.
Antoniel Campos