domingo, 10 de março de 2024


Amor desta tarde que arrefeceu

as mãos e os olhos que te dei;

amor exato, vivo, desenhado

a fogo, onde eu próprio me queimei;


amor que me destrói e destruiu

a fria arquitetura desta tarde

- só a ti canto, que nem eu já sei

outra forma de ser e de encontrar-me.


Só a ti canto que não há razão

para que o frio que me queima os olhos

me trespasse e me suba ao coração;


só a ti canto, que não há desastre

donde não possa ainda erguer-me

para encontrar de novo a tua face.


Eugénio de Andrade