segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

 


Eu soube que ser amado não é nada, que amar, no entanto, é tudo. E eu pensei ver cada vez mais claro que o que torna a existência valiosa e 

agradável é o nosso sentimento e a nossa sensibilidade. Onde quer que eu visse na terra algo que pudesse ser chamado de "felicidade", esta era composta de sentimentos. O dinheiro não era nada, nem o poder. Via muitos que possuíam ambos e eram infelizes. A beleza não era nada; via homens e mulheres bonitos, que apesar de toda a sua beleza eram infelizes. A saúde também não contava muito. Cada um era tão saudável quanto se sentia; havia doentes que transbordavam de vitalidade até pouco antes do seu fim, e pessoas saudáveis que murchavam, angustiadas pelo medo de sofrer. A alegria, no entanto, estava sempre lá onde um homem tinha sentimentos fortes e vivia para eles, sem reprimi-los nem violá-los, mas cuidando e desfrutando deles. A beleza não fazia feliz aquele que a tinha, mas aquele que sabia amá-la e venerar.

Aparentemente havia sentimentos muito diferentes, mas no fundo todos eram um. Qualquer um deles pode ser chamado de vontade ou qualquer outra coisa. Eu chamo de amor. Alegria é amor e nada mais. Quem é capaz de amar é feliz. Todo movimento da nossa alma em que ela se senta e sente a vida é amor. Portanto, é feliz aquele que ama muito. No entanto, amar e desejar não é exatamente a mesma coisa. Amor é desejo feito sabedoria; amor não quer possuir, só quer amar. Por isso também era feliz o filósofo que mechava em uma rede de pensamentos o seu amor ao mundo e que o envolvia repetidamente com a sua rede amorosa. Mas eu não era filósofo.

Herman Hesse, Obstinação