A cor do sábado é inspirada. Pequenos peixes improvavelmente
florescem dos teus gestos, o teu corpo extasiado está ainda na
minha memória e já não é corpo, é memória. Oiço o destino
como se ouvem os guisos, os sinos e o vento. Sei que guardas pa-
lavras minhas nos cabelos, as que não couberam na tua cabeça
mas que já estavam grávidas de amor.
Essas palavras são o meu ofício e a minha fala. Não poderei re-
peti-las. Pertencem a um momento único, filhas de um fogo puro,
intenso e imenso.
Com o barro da sombra vou fazer o sol, construir a casa para ti,
para a tua ausência. Pintá-la com a cor deste sábado, madura e
abundante. Vou escrever o mundo e inscrever-te nele, como se,
antes de nós, o mundo não tivesse existido.
Joaquim Pessoa