sábado, 18 de novembro de 2023


 A cor do sábado é inspirada. Pequenos peixes improvavelmente

florescem dos teus gestos, o teu corpo extasiado está ainda na

minha memória e já não é corpo, é memória. Oiço o destino 

como se ouvem os guisos, os sinos e o vento. Sei que guardas pa-

lavras minhas nos cabelos, as que não couberam na tua cabeça

mas que já estavam grávidas de amor. 

Essas palavras são o meu ofício e a minha fala. Não poderei re-

peti-las. Pertencem a um momento único, filhas de um fogo puro,

intenso e imenso. 

Com o barro da sombra vou fazer o sol, construir a casa para ti, 

para a tua ausência. Pintá-la com a cor deste sábado, madura e 

abundante. Vou escrever o mundo e inscrever-te nele, como se, 

antes de nós, o mundo não tivesse existido.


Joaquim Pessoa