quarta-feira, 13 de setembro de 2023


 Reli, como quem lê uma obra alheia,

O que escrevi nessa distância minha

De jovem, a de que a alma ficou cheia.

Porque foi o melhor que a alma tinha;


Reli, e desconheço quem foi o poeta

Nessa ocasião em que esplendi absorto,

E o que sou hoje é uma sombra preta

Sobre o chão limpo desse poeta morto.


Reli; nem saberei que é que fui

Quando fui o poeta que não sou…

Não sei que rio por minha alma flui.

Sei que trouxe meu ser e mo levou.


Fernando Pessoa