Tendo penetrado, no decurso dos anos, bastante fundo em duas ou três religiões, recuei de cada vez no limiar da «conversão», por medo de mentir a mim próprio. Nenhuma delas era, aos meus olhos, suficientemente livre para admitir que a vingança é uma necessidade, a mais intensa e a mais profunda de todas, e que cada um de nós a deve satisfazer, nem que seja com palavras. Se a sufocamos, expomo-nos a graves perturbações. Vários desequilíbrios — talvez mesmo todos os desequilíbrios — provêm de uma vingança que adiamos durante demasiado tempo. Saibamos explodir! Qualquer mal-estar é mais são do que o suscitado por uma raiva acumulada.
Emil Cioran
(In: “Do inconveniente de ter nascido”)