E que importância pode ter o fato de eu me atormentar, sofrer ou pensar? Minha presença no mundo sacudirá — para o meu grande pesar — a tranquila existência de uns e perturbará a ingenuidade inconsciente e prazerosa de outros, para o meu ainda maior pesar. Embora sinta que minha tragédia seja para mim a maior tragédia da História — maior que as quedas de impérios ou de quem sabe que desabamentos no fundo de uma mina — carrego implicitamente a sensação de minha total nulidade e insignificância. Estou convencido de que não sou absolutamente nada no universo, embora sinta que a única existência real seja a minha. Ademais, se eu fosse obrigado a escolher entre a existência do mundo e a minha existência, eu recusaria a outra, com todas as suas leis, a fim de planar sozinho no Nada absoluto. Embora para mim a vida seja um suplício, não posso abdicar dela, pois não acredito no caráter absoluto dos valores transvitais pelos quais me sacrificaria. Para ser sincero, diria que não sei por que vivo e por que não cesso de viver. A chave provavelmente reside no fenômeno da irracionalidade da vida, que faz com que ela se mantenha sem motivo.
Emil Cioran