domingo, 13 de agosto de 2023


 Geralmente (alguns, devo dizer) me consideram bastante bom; é que não tenho tempo suficiente para ser mau. Então, como tenho uma capacidade muito grande de arrependimento, inevitavelmente sofro por todas as torpezas que, por acaso, cometo. Arrependo-me de todo o bem e de todo o mal que faço. Deveria permanecer para sempre abaixo ou acima dos atos, esgotar-me no virtual... Aliás, é o que costumo fazer. Ninguém é mais veleidoso do que eu sou. Um aborto, um pobre tipo — com  algumas desculpas metafísicas.

Emil Cioran (In: “Cadernos: 1957–1972”)