ah, esse tempo e essa distância.
tu a quantos passos dos meus dedos,
do meu alcance,
dos meus segredos e da minha sanha.
tu que me tens fácil
e me ganhas em palavras comezinhas,
amiúde em tua voz e nela envoltas
que nem percebo-as minhas.
traídas no teu timbre
e de mim subtraídas,
o teu chamado eu ouço
no teu chamado eu fico.
e assim o ambiente tu preparas,
trazendo, a cada instante,
somente o que a ele é necessário;
já eu, pelo contrário,
ou trago tudo ou nada trago:
ou te como de beijos
ou te devoro de ausências.
mas sabes o meu preço:
declinas o teu colo,
solfejas um bolero,
e dizes o que eu quero
na espera que ofereço
(e mais esperaria,
que esse tempo não se conta),
e tu, num faz-de-conta,
nos lábios que a custo movimentas,
lançando-me palavras
castas e sedentas,
certeiras e fugidias,
com as quais, sabes, me adias
e com elas me demoro
porque tanto me inebria.
mas, é pouco. pensas.
não sei como,
mas, aos poucos,
lentamente,
todo o ambiente olorizas.
um cheiro não guardado nos perfumes
e às flores, certamente, ocultado;
e eu, embriagado,
sabendo-te culpada da fragrância,
mais me aproximo
e inútil escondo a ânsia
de vestir-me do teu corpo,
de beber a tua pele,
cada pêlo e cada poro,
cada curva, toda parte,
eu inteiro, tu completa.
e como não convém dizer segredos
a olhos que não sejam teus e meus,
deixemos que adivinhem o percurso
da vuelta e reencontro
do meu toque, meu olhar,
no presente derradeiro que me deste:
tu inteira,
epicentro desse cheiro.
Antoniel Campos