sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Um contributo à estatística


De cada cem indivíduos


os que sabem tudo melhor

— cinquenta e dois;


inseguros de cada passo

— quase todo o resto;


prontos para ajudar

desde que não demore muito

— até quarenta e nove;


sempre bons,

porque não sabem ser de outro jeito

— quatro, bem, talvez cinco;


dispostos a admirar sem inveja

— dezoito;


vivendo em constante medo

de alguém ou de algo

— setenta e sete;


com aptidão para a felicidade

— vinte e poucos no máximo;


inofensivos individualmente,

ferozes na multidão

— por certo mais que a metade;


cruéis

quando as circunstâncias exigem

— melhor não saber

nem por aproximação;


gatos escaldados

— não muitos mais

do que os não escaldados;


os que não levam nada da vida além de coisas

— quarenta,

embora eu quisesse estar enganada;


encolhidos, doloridos

e sem lanterna na escuridão

— oitenta e três,

mais cedo ou mais tarde;


dignos de compaixão

— noventa e nove;


mortais

— cem de cem.

Número que até aqui segue inalterado.


Wislawa Szymborska