domingo, 6 de novembro de 2022

 


O senhor definiu muito bem um fator incontestavelmente moral na natureza da música; a

saber, que ela mede o curso do tempo de uma forma especial e cheia de vida, e assim lhe

empresta vigilância, espírito e preciosidade. A música desperta o tempo; desperta a nós, para

tirarmos do tempo um gozo mais refinado; desperta... e portanto é moral. A arte é moral na

medida em que desperta. Mas que sucede quando ela faz o contrário? Quando entorpece,

adormenta, estorva a atividade e o progresso? Também disso a música é capaz; sabe

perfeitamente agir como ópio. Uma influência diabólica, meus senhores! O ópio é uma obra do

Diabo, porque causa apatia, estagnação, passividade, inatividade servil... Há na música um

elemento perigoso, senhores. Insisto no fato da sua natureza ambígua. Não exagero ao declarar

que ela é politicamente suspeita. 


Thomas Mann, A montanha Mágica