domingo, 6 de novembro de 2022

 


A razão pela qual ninguém vê seus defeitos, e sobretudo um escritor, é esta: quando escrevemos, mesmo sobre coisas insípidas, encontramo-nos forçosamente numa excitação que tomamos facilmente como inspiração; mesmo para redigir um cartão-postal é necessário um mínimo de "calor", em todo o caso uma ausência de indiferença, uma pitada de ritmo. Como nada se faz a frio, assim que executamos qualquer coisa, pensamos que temos... talento. Ninguém se persuade do nada que faz. Toda forma de "criação" exige uma participação do nosso ser. E não podemos conceber que o que emana de nós não valha absolutamente nada.


Emil Cioran (In: “Cadernos: 1957–1972”)