sexta-feira, 29 de julho de 2022

Poema


Senhora de muito espanto,

vestindo coisas longínquas

e alguns farrapos de sono,


eu vim para te dizer

que inutilmente contemplo

na planície de teus olhos

o incêndio do meu orgulho.


Senhora de muito espanto,

sentada além do crepúsculo

e perfeitamente alheia

a realejos e manhãs.


Eu vim para te mostrar

que se inaugurou um abismo

vertical e indefinido

que vai do meu lábio arguto

ao chumbo do teu vestido.


Senhora de muito espanto

e alguns farrapos de sono,

onde o céu é coisa gasta

que ao meu gesto se confunde.


Um dia perdi teu corpo

nas cores do mapa-múndi.


Carlos Pena