Em um sentido mais amplo, pode-se dizer também que os quarenta primeiros anos da existência proporcionam o texto e os trinta seguintes o comentário. Esse então nos faz compreender bem o sentido verdadeiro e a sequência do texto, juntamente com sua moral e todas as suas nuances e sutilezas.
Em relação ao término da vida, há algo que lembra o final de um baile de mascarados quando as máscaras são retiradas. Nesse momento realmente se vê quais eram aqueles com os quais se esteve em contato durante sua vida. Os caracteres se revelaram, as ações deram seus frutos, as obras encontraram sua exata apreciação e todas as fantasmagorias desapareceram. Porque para isso foi necessário tempo. O mais curioso é que apenas no fim de nossas vidas realmente reconhecemos e compreendemos a nós próprios, nossas metas e objetivos, especialmente no que concerne às nossas relações com o mundo e com os demais. Muitas vezes, mas não sempre, teremos de nos classificar mais abaixo do que anteriormente supúnhamos merecer. Porém às vezes nos concederemos um posto superior, isso porque não tínhamos uma noção adequada da baixeza do mundo, e havíamos lançado aspirações mais elevadas que o restante da humanidade. A marcha da vida nos ensina a conhecer o que cada qual vale.
Arthur Schopenhauer
Aforismos para a sabedoria de vida