sexta-feira, 29 de julho de 2022



A cem quilômetros por hora,

solto a direção do automóvel

para escrever alguma coisa

mais urgente que minha vida.


Devo portanto utilizar

o vocabulário econômico

do Século: é proibido

amar, fumar, pisar na grama.


Mas gostaria que restasse

algum tempo para dizer

no poema as palavras súbitas

de recompensa e remissão.


Ó meu Deus, eu quero escrever

a minha vida, não teu Céu.

Eu estou só e enlouquecido

como as ovelhas mais longínquas.


Dá pelo menos a esperança

de terminar o doloroso

poema. Dá isso a teu filho,

caído, e coberto de sal.


   Alberto da Cunha Melo

           De Oração pelo Poema