quinta-feira, 23 de junho de 2022

Asteriscos

Alfredo Araujo Santoyo


Como um suicida que deixa

uma carta em cima da mesa,

para descansar a polícia,

deixo o meu poema no mundo.


Minha dor lógica jamais

necessitou de testemunho

outro, que não fosse o meu corpo,

sob os ataúdes do Céu.


Pisei nas calçadas da vida

(de cabeça baixa) e gritaram;

desci sem nenhuma palavra

e eles morreram de vergonha.


O telefone negro toca

na sala interminavelmente

deserta. Que nova esperança

dirá um telefone negro?


Os meus amigos têm olhos

horríveis, diante de mim.

Mas não pergunto o que lhes fiz:

deixo o meu poema na mesa.


    Alberto da Cunha Melo

              De Círculo Cósmico (1966)