Alfredo Araujo Santoyo |
Como um suicida que deixa
uma carta em cima da mesa,
para descansar a polícia,
deixo o meu poema no mundo.
Minha dor lógica jamais
necessitou de testemunho
outro, que não fosse o meu corpo,
sob os ataúdes do Céu.
Pisei nas calçadas da vida
(de cabeça baixa) e gritaram;
desci sem nenhuma palavra
e eles morreram de vergonha.
O telefone negro toca
na sala interminavelmente
deserta. Que nova esperança
dirá um telefone negro?
Os meus amigos têm olhos
horríveis, diante de mim.
Mas não pergunto o que lhes fiz:
deixo o meu poema na mesa.
Alberto da Cunha Melo
De Círculo Cósmico (1966)