Dario Campanile |
As palavras preenchem abismos. São pontes de madeira e aço fino. Somos todos em forma de palavras. As palavras machucam, doem, cortam. Anunciam a paz para poderem declarar a guerra.
As palavras são muito mais do que palavras.
Há palavras sonoras e palavras murmúrios. Palavras meigas revoltam-se subitamente bruscas. Só algumas são de confiar sem receio. Há palavras que mostram o que outras escondem, embora raras: duas, três, no máximo meia dúzia.
Há palavras que incendeiam almas, prisões, países. As mais verdadeiras e humildes ardem sozinhas, querem ser fumo sossegadamente.
Por vezes meia palavra basta, por vezes palavra e meia não serve de nada. Uma mesma palavra para sempre repetida, todas as outras congeladas dentro de um frigorífico. Sem palavras é o silêncio. O silêncio por detrás das palavras.
Choramos todos na mesma língua. Ao dormir somos todos iguais.
Pedro Paixão