Como sombra invasora e transbordada
de asa de cinza e chuva quebradiça
tu desterras o tempo interrompido
com tua solidão alucinada.
Pedra de olvido e fonte abandonada,
essa faixa de névoa é tão perdida
que morre e nasce em ti, se em mim tu inclinas
tua distância em plumas desfolhada.
De cal flutuante e de onda descontínua
Musa és tão só, tão mar ensimesmado
tão sortilégio, tão solitária e erma
que pareces escada submarina
para eu descer imerso, no teu reino
investido dos mantos decisivos.
Jorge de Lima, em "Jorge de Lima: poesia completa".
(Org. Alexei Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 485.