quarta-feira, 18 de maio de 2022

 



Como sombra invasora e transbordada

de asa de cinza e chuva quebradiça

tu desterras o tempo interrompido

com tua solidão alucinada.

Pedra de olvido e fonte abandonada,

essa faixa de névoa é tão perdida

que morre e nasce em ti, se em mim tu inclinas

tua distância em plumas desfolhada.

De cal flutuante e de onda descontínua

Musa és tão só, tão mar ensimesmado

tão sortilégio, tão solitária e erma

que pareces escada submarina

para eu descer imerso, no teu reino

investido dos mantos decisivos.


Jorge de Lima, em "Jorge de Lima: poesia completa". 

(Org. Alexei Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 485.