segunda-feira, 25 de abril de 2022

Minha universidade



Vocês sabem francês.

Dividem,

multiplicam,

declinam perfeitamente.

Pois declinem!

Me digam: vocês

com os edifícios

sabem cantar?

A língua dos trens vocês compreendem?

Os discípulos

estendem as mãos

somente nos livros

e cadernos da tabuada.

Eu

aprendi o alfabeto nas placas

folheando páginas de ferro e alumínio.

Os mestres

apertam em suas mãos

a terra

arrancando-lhe cascas,

gomos,

mas toda ela não passa

de um globo

em escala.

Eu

de bruços aprendi geografia ─ 

não por acaso: dormia no chão

deitado nas tábuas

de meu mais regular declínio.

A Ilovaiski tortura uma questão:

─ Seria mesmo ruiva a barba do Barba-Ruiva?

Não me importa essa burrice de holofotes.

Qualquer história das ruas

para mim é mais digna de nota.

Pagam Boaventuras (para odiar

desventurados)

e fazem patíbulo de sobrenomes

do prestigioso pódio.

Eu

aos gordos

desde a infância aprendi a sentir ódio.

Eu era pobre

e me vendia pelo almoço.

Depois retinirão ideiazinhas

como tostões de cobre

para levar também as moças.

Eu somente com os edifícios me entretinha.

Só me respondiam os encanamentos.

À espera do que eu lhes lançasse na orelha

as calhas se esticavam dos telhados.

Depois, uns contra os outros

e todos contra as estrelas,

em línguas que eu lhes tenha alumiado,

estalavam cata-ventos.


Vladimir Maiakóvski