quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O Amor no Chão



O vento da outra noite derrubou o Amor

Que, no mais misterioso recanto do parque,

Nos sorria, ao esticar malignamente o arco,

E cujo ar nos fez meditar com fervor!


O vento da outra noite derrubou-o! O mármore

com o sopro da manhã, disperso, gira. É triste

Olhar o pedestal, onde o nome do artista

Se lê com muito esforço à sombra de uma árvore,


É triste ver em pé, sozinho, o pedestal!

Melancólicos vêm e vão pensamentos

No meu sonho, onde o mais profundo sofrimento

Evoca um solitário futuro fatal.


É triste! — E mesmo tu, não é? ficas tocada

Plo cenário dolente, embora te divirtas

Com a borboleta rubra e de oiro, que se agita

Sobre a alameda, além, de destroços juncada.


Paul Verlaine

Tradução de Fernando Pinto do Amaral.