quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Poema



Diante de tua beleza as coisas se apagaram.

És o golfo onde escondi meu barco doente

e a cripta onde deporei meus mortos.

Ave e orvalho, mulher e cornamusa.

Somos irmãos no mito

e eis que te refaço

com a seiva de meu ser.

De ti recolho este secreto espanto,

este secreto mel,

Em ti refaço a viagem não feita, o riso não rido e o amor não amado.

És a beleza mesma adiada no tempo

E nos outros a necessidade de sua perfeição.


- Paulo Plínio Abreu, em "Poesia". 2ª ed., Belém: EDUFPA, 2008.