quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Adeus às armas



Não concordo com o que dizem por aí. O que fizemos neste verão não foi inútil.
Calei-me. Eu sempre me embaraçava com as palavras sagrado, glorioso, sacrifício e inútil. Nós as
tínhamos escutado muitas vezes, de longe, debaixo da chuva, quando só as palavras mais gritadas
eram ouvidas, e as tínhamos lido em proclamas pregados nas paredes, sobre outros proclamas. Mas
não víamos nada sagrado em torno, e as coisas gloriosas não mostravam glória nenhuma. Os
sacrifícios seriam como os dos matadouros de Chicago, só que lá fazem outra coisa com a carne que,
aqui, enterramos. Havia muitas palavras que já não suportávamos — e por fim só os nomes dos
lugares tinham dignidade. Certos números, nomes e datas eram tudo o que poderíamos pronunciar
com alguma significação. Palavras abstratas, como glória, honra, coragem, sagrado, eram obscenas,
ao lado dos nomes concretos das cidades e rios, dos números dos regimentos e das datas.


Ernest Hemingway, Adeus às armas