A impossibilidade de isolar-me
De todas as paisagens imaginadas,
De não conversar com multidões compactas
Que se agitam no meu pensamento.
De separar-me do meu próprio corpo
Que carrega em cada linha da sua forma a indagação
De um conceito de utilidade, de um novo falar misterioso.
Isolar-me dos secretos raciocínios contrastantes
Nos quais brotam amargas dúvidas nas certezas,
A impossibilidade de sustar os movimentos
Independentes da pura condição,
De fechar os olhos e na tela das pálpebras
Não ver a cena no palco das minhas reações.
De morrer por dentro andes de morrer por fora,
De ficar névoa sem contemplar a dimensão escura,
De sentir o tato da Grande Mão
Carinhosamente baixar sobre a minha face
E abandonar-me alienada no volume das trevas desconhecidas.
Adalgisa Nery
In Erosão (1973)