sábado, 4 de abril de 2015
“Não pareis de dançar, encantadoras meninas! Quem se aproxima de vós não é um obstáculo a vosso entretenimento, um olho mau, um inimigo das jovens.
Sou o advogado de Deus perante o diabo. Esse diabo é o espírito do peso. Vós, tão leves, como poderia eu ser inimigo das divinas danças? Ou dos pés das jovens de graciosos tornozelos?
É certo que sou uma selva e uma noite de árvores sombrias, mas aquele que não se amedrontar de minhas trevas encontrará sobre meus ciprestes coroas de rosas.
Saberá também encontrar o pequenino Deus preferido das donzelas. Está junto da fonte, tranquilo, de olhos fechados.
Na verdade, adormeceu em pleno dia o folgado! Sem dúvida, andou atarefado demais, não é? Com sua caça às borboletas.
Não vos zangueis comigo, formosas dançarinas, se contra o pequeno Deus ando um tanto irritado. Sem dúvida, ele vai gritar e chorar. Mas, até quando chora, se presta ao riso.
E, com lágrimas nos olhos, ele vai voz convidar para uma dança. Eu mesmo acompanharei essa dança com uma canção.
Uma canção para dançar e uma sátira sobre o espírito do peso, sobre meu diabo soberano e onipotente que dizem ser o dono do mundo”.
— Friedrich Wilhelm Nietzsche, in Assim Falava Zaratustra