segunda-feira, 3 de novembro de 2014

94. As três fases da moralidade até agora




Temos o primeiro sinal de que o animal se tornou homem, quando a sua atuação já não se relaciona como bem-estar momentâneo, mas com o duradouro, prova de que o homem adquire o sentido útil, do adequado: é então que, pela primeira vez, irrompe o livre senhorio da razão. Um estágio ainda mais elevado é alcançado, quando ele age consoante o princípio da honra; graças ao mesmo, ele  adapta-se, submete-se a sentimentos comuns, e isso o ergue muito acima da fase, em que só a utilidade entendida em termos pessoais o guiava; ele respeita e quer ser respeitado, isto é, entende o proveito como dependente do que ele opina acerca dos outros, do que os outros opinam acerca dele. Finalmente, na fase mais elevada da moralidade em uso até agora, ele age segundo o seu critério quanto às coisas e às pessoas, ele próprio determina para si e para outros o que é honroso, o que é útil; tornou-se o legislador das opiniões, em conformidade com o conceito cada vez mais desenvolvido do útil e honroso. O conhecimento habilita-o a preferir o mais  útil, ou seja, a colocar o proveito geral e duradouro à frente do pessoal, a respeitosa estima de valia geral e duradoura à frente da momentânea; ele vive e atua como indivíduo coletivo.


Friedrich Nietzsche em Humano, demasiado humano