sábado, 6 de setembro de 2014

Flagrante



Desço escadas duvidosas
Ambientes de luz neon e fumaça
O avesso da sua imagem
Refletida na vidraça
Se dispersa no meio da cidade
Aonde alguém em quem jogar essa vontade?
Guinchos de ave de rapina
Aonde me esfregar?
Pílulas laminadas, brilhantes, douradas
Cintilam em espirais um desespero urgente.
Deus se disfarça de serpente
Um olho cruel, uma forma feminina
Dizem que dança dentro dos espelhos
E é visto bebendo junto
Ao senhor dos escaravelhos
Íntimos de tanto poder.
Quero sair de mim, fugir de mim, não mais me submeter
Às eférides, aos movimentos dos asteroides
Carrego no bolbo o flagrante numa Polaroid
Ainda tonta de tanto flash.
Sinto que é inédito e é irremediável
Não há a quem se reportar
Porque nada mais há
Em plena era do raio laser descartável
E da sorte escrita nos bolinhos das casas de chá.


Bruna Lombardi