quinta-feira, 6 de março de 2014
O existencialismo é um humanismo (trecho)
Dostoievski escreveu: “Se Deus não existisse tudo seria permitido” . Eis o ponto de partida do existencialismo. De fato, tudo é permitido se deus não existe e, por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra nele próprio nem fora dele, nada a que se agarrar. Para começar, não encontra desculpas, com efeito se a existência precede a essência nada poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é a liberdade. Por outro lado, se deus não existe, não encontramos já prontos , valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta . Assim não teremos nem atrás de nós nem na nossa frente , no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpa. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre . Condenado porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto é livre, uma vez que foi lançado ao mundo, é responsável por tudo que faz. O existencialismo não acredita no poder da paixão. Ele jamais admitirá que uma bela paixão é uma corrente devastadora, que conduz o homem, fatalmente, a determinados atos, e que, consequentemente, é uma desculpa. Ele considera que o homem é responsável por sua paixão. O existencialista não pensará nunca, também, que o homem pode conseguir o auxílio de um sinal qualquer que o oriente no mundo, pois considera que é o próprio homem que decifra o sinal como bem entende. Pensa, portanto, que o homem sem apoio e sem ajuda está condenado a inventar o homem a cada instante.
Jean-Paul Sartre, O existencialismo é um humanismo