sexta-feira, 7 de março de 2014

Michael de Bono 


O mundo não vale o mundo, meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
O mundo, meu bem, não vale
a pena, e a face serena
vale a face torturada.
Há muito aprendi a rir, de quê? de mim? ou de nada?


Carlos Drummond de Andrade, in Cantiga de Enganar, Claro Enigma, 1951