sábado, 11 de janeiro de 2014

Na praça procurou-se pelos pombos



Na praça procurou-se pelos pombos
(como num último pedir de moribundo
- e os pombos dormiam.
Dormiam muito sós nos seus silêncios
e nos seus medos
de quem
de cima
(calado)
observa tudo
e sentia aquela angústia
propriedade particular dos deuses.
E faziam amor
sem coisa alguma mais do que amor.
Sem cicatrizes impressas em nenhum lombo.
Sem momentos despejados na areia.
Sem músicos.
Sem cruzeiros...


Torquato Neto In: O Fato e A Coisa. p.81
Rio, março, 1963.