quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Lassidão

Tara Juneau 


Ah, por favor, doçura, doçura, doçura! 
Acalma esses arroubos febris, minha bela. 
Mesmo em grandes folguedos, a amante só deve 
Mostrar o abandono calmo da irmã pura. 

Sê lânguida, adormece-me com os teus afagos, 
Iguais aos teus suspiros e ao olhar que embala. 
O abraço do ciúme, o espasmo impaciente 
Não valem um só beijo, mesmo quando mente! 

Mas dizes-me, criança, em teu coração de ouro 
A paixão mais selvagem toca o seu clarim!... 
Deixa-a trombetear à vontade, a impostora! 

Chega essa testa à minha, a mão também, assim, 
E faz-me juramentos pra amanhã quebrares, 
Chorando até ser dia, impetuosa amada! 



Paul Verlaine, in "Melancolia"
 (Tradução de Fernando Pinto do Amaral)