domingo, 13 de outubro de 2013

Renso Castaneda


Já se esquecera a que sabia o sêmen
de um estranho. E agora que voltava
sem querer às ruas vermelhas, quase se
arrependia de ter apagado tão depressa
o nojo e a indecência nos caracóis de

um menino que haveria de ser sempre
só dela. E como lhe parecia igualmente
viscoso e escorregadio o dinheiro que no
fim lhe entregavam dobrado e à pressa –
tão diferente do cartão limpinho com que

as senhoras lhe tinham pago vestidos ao
balcão, na loja que agora dava pena, assim
entaipada. Ai, se o menino soubesse que

era ainda nele e nas suas brincadeiras que
pensava quando agachada ali, durante de um
estranho, abria a boca e fechava os olhos.


Maria do Rosário Pedreira