Claude Theberge |
E se eu não me encaixasse em sua nuca de noite? Se eu não beijasse seu rosto quando você dorme dez minutinhos de tolerância? Se eu não ligasse o chuveiro antes para deixar aquecido? Se eu não preparasse seu iogurte? Se eu não levasse você ao trabalho com a rádio que gosta? Se eu não mandasse mensagens por onde ando? Se não saíssemos de mãos dadas com você invertendo o jeito de comprimir a palma para dentro? Se eu não estivesse perto para escutar seus desabafos? Se eu não recolhesse suas roupas sem que percebesse? Se eu não pressentisse seu cansaço e a objetividade da ressaca? Se eu não despertasse sua nudez com as palavras certas? Se eu não amasse sua família e seus amigos? Se eu não fizesse nenhuma provocação? Se você não ficasse muda - respirando lento - em meu ouvido? Se não segurasse minha cabeça por trás? Se não reclamasse de minha barba arranhando seu rosto? Se não dançássemos com o álcool dos olhos? Se eu não procurasse mexer em seu pescoço para acalmá-la? Se eu não fosse o voto de minerva de seus vestidos e sapatos? Se não abraçasse quando você está quase chorando para criar uma árvore de ombros?
Se não,
se não,
se eu não existisse, amada, o que você faria?
A saudade explica o amor.
A saudade esclarece o quanto estamos amando.
É um calorão que vem com a simples ideia de perder alguém. A garganta acelera com a ameaça da ausência. É uma falta de ar que forma o suspiro. É uma dificuldade tremenda de dormir separado, como se seu corpo estivesse sempre pela metade. É uma calamidade não apressar as pazes. É uma angústia ver o outro aborrecido.
Você passa a não suportar nem uma pequena incompreensão por muito tempo, e logo escreve e logo telefona e logo pede desculpa.
Você lembra e não acredita de tão perfeito. Só ama quem não acredita naquilo que está vivendo.
Se você não tem noção de quanto se entrega, a saudade mostra.
A saudade é um sofrimento alegre. Você sofre, mas agora acompanhada do motivo de sua saudade.
Derramada é você, apenas não parou para pensar no que sente por mim.
A saudade é parar um minuto.
Nem pare. Tente evitar. Procure fugir do assunto.
Eu sou água, você é fogo. O fogo é mais derramado do que a água.
Recomendo não olhar para baixo. Continue voando com suas labaredas. É melhor não saber.
Você ainda não conhece o tamanho de sua saudade para conhecer o tamanho de seu amor.
Fabrício Carpinejar