sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Valsa à mulher do povo

Bill Brauer


OFERENDA
Oh minha amiga da face múltipla 
Do corpo periódico e geral! 
Lúdica, efêmera, inconsútil 
Musa central-ferroviária! 
Possa esta valsa lenta e súbita 
Levemente copacabanal 
Fazer brotar do povo a flux 
A tua imagem abruptamente 
Ó antideusa!

VALSA
Te encontrarei na barca Cubango, nas amplas salas da Cubango 
Vestida de tangolomango 
Te encontrarei! 
Te encontrarei nas brancas praias, pelas pudendas brancas praias 
Itinerante de gandaias 
Te encontrarei. Te encontrarei nas feiras-livres 
Entre moringas e vassouras, emolduradas de cenouras 
Te encontrarei. Te encontrarei tarde na rua 
De rosto triste como a lua, passando longe como a lua 
Te encontrarei. Te encontrarei, te encontrarei 
Nos longos footings suburbanos, tecendo os sonhos mais humanos 
Capaz de todos os enganos 
Te encontrarei. Te encontrarei nos cais noturnos 
Junto a marítimos soturnos, sombras de becos taciturnos 
Te encontrarei. Te encontrarei, oh mariposa 
Oh taxi-girl, oh virginete pregada aos homens a alfinete 
De corpo saxe e clarinete 
Te encontrarei. Oh pulcra, oh pálida, oh pudica 
Oh grã-cupincha, oh nova-rica 
Que nunca sais da minha dica: sim, eu irei 
Ao teu encontro onde estiveres 
Pois que assim querem os malmequeres 
Porque és tu santa entre as mulheres 
Te encontrarei!


Vinicius de Moraes