sábado, 6 de julho de 2013

Deita-te aqui

 Spartaco Lombardo


Deita-te aqui - esta noite, dentro de mim, 
está tanto frio. Se fores capaz, cobre-me de 
beijos: talvez assim eu possa esquecer para 
sempre quem me matou de amor, ou morrer 
de uma vez sem me lembrar. Isso, abraça-me

também: onde os teus dedos tocarem há uma 
ferida que o tempo não consegue transportar. 
Mas fecho os olhos, se tu não te importares, e 
finjo que essa dor é uma mentira. Claro, o que

quiseres está bem - tudo, ou qualquer coisa, 
ou mesmo nada serve, desde que o frio fique 
no laço das tuas mãos e não regresse ao corpo 
que te deixo agora sepultar. Não sentes frio, tu,

dentro de mim? Nunca nevou de madrugada no 
teu quarto? Que país é o teu? Que idade tens? 
Não, prefiro não saber como te chamas


Maria do Rosário Pedreira 
in "Nenhum nome depois"