quarta-feira, 10 de julho de 2013

Corpo

Sergey Ignatenko linho


 Corpo serenamente construído 
Para uma vida que depois se perde 
Em fúria e em desencontro vivido 
Contra a pureza inteira dos teus ombros. 

 Pudesse eu reter-te no espelho 
Ausente e mudo a todo outro convívio 
Reter o claro nó dos teus joelhos 
Que vão rasgando o vidro dos espelhos. 

 Pudesse eu reter-te nessas tardes 
Que desenhavam a linha dos teus flancos 
Rodeados pelo ar agradecido. 

 Corpo brilhante de nudez intensa 
Por sucessivas ondas construído 
Em colunas assente como um templo. 


 Sophia de Mello Breyner Andresen