Sei que a associação de animais com chifres – especialmente o bode – com o “diabo” é oriunda da igreja católica. Na europa da idade média, ao descobrir que mulheres pagãs livres cultuavam deuses próprios, os clérigos precisavam tomar providências. Para enfraquecer o movimento espiritual que crescia distante da igreja, especialmente entre as classes menos privilegiadas, passaram a associar as imagens destes deuses (normalmente metade seres humanos, metade animais com chifres*) a lúcifer, um anjo querubim responsável pela guarda celestial, expulso dos Céus por criar uma rebelião de anjos contra Deus com a intenção de tomar-lhe o trono. Curioso, porque o significado dos chifres (especialmente os que se dirigem ao céu) é justamente o oposto: a busca pela espiritualidade e a conexão com as forças superiores do bem.
Séculos se passaram e boa parte da humanidade ainda costuma se referir ao que denominam “diabo” utilizando-se de imagens de animais com chifres, tais como bode, carneiro, ou alce; assim como continuam discriminando os gatos (especialmente os pretos), escolhidos na inquisição por andarem sempre próximos das mulheres praticantes da bruxaria. É uma pena ver que a seres tão puros como estes sejam conferidos significados tão crueis e opostos ao que eles representam para a natureza e para o planeta; lamento muito quando vejo em capas de discos, camisetas, ou em quaisquer outras manifestações visuais esta infeliz associação. Mas enfim, esta é apenas uma das dezenas de injustiças e atrocidades que o ser humano vem cometendo há séculos com seus irmãos de outras espécies na Terra. Porém, talvez mais triste ainda seja saber que a crueldade contra eles está longe de terminar.
* O primeiro deles, Pan, ser mitológico metade homem, metade bode; foi dele a primeira imagem associada à Lucifer.
Texto: Rogerio Rothje - www.cronicato.blogspot.com
