O homem atravessou as seis pistas do Eixão, correndo em ziguezague no
meio do trânsito enfurecido, mas a mulher empacou, paralisada pelo
medo. A separação já dura cinco dias: ele do lado de cá, ela do lado
de lá, e os automóveis voando-zunindo entre um e outro. E se ninguém
avisou que existe passagem subterrânea pra pedestre nem foi por
maldade: é que dá gosto ver aqueles dois, ela desenhando corações no
ar, ele mandando carta em aviõezinhos de papel. Acho que nunca se
amaram tanto.
José Rezende Jr.
Texto transcrito do livro “50 anos em Seis: Brasília, prosa e poesia”
Créditos: Brasília Poética