sábado, 15 de junho de 2013

Neste Outono

Yarek Godfrey


Neste outono, as pedras agasalham-se no cobertor 
do musgo; e o barro bebe a água; e o vento viaja rente 
aos muros. Mas eu, sem ti, deito-me gelada sobre a cama 
e digo palavras que queimam a boca por dentro ― amor, 

saudade, o teu nome e os nomes das coisas que tocaste 
(e sobre as quais deixo crescer o pó, para que os dias 
não se decalquem sempre de outros dias). Fecho os olhos 

depois sobre a almofada e vejo o rosto branco da casa 
desenhar-se à medida da tua ausência: as janelas abrem-se 
para a solidão dos becos e há um farrapo de luz sobre a porta 
a que ninguém virá bater. Pergunto-me onde anda a tua 
sombra quando aqui não estás. E tenho medo. São estes 

os solavancos de uma ida pequena ― bordar uma toalha 
para logo a manchar de vinho, sentir a ferida na distância 
do punhal, viver à espera de uma dor que há de chegar.


Maria do Rosário Pedreira