quinta-feira, 9 de maio de 2013

O problema de quem espera

Nietzsche em 1869

Feliz é o homem que realiza em tempo oportuno a solução do problema que nele dormitava, que por fim consegue "explodir" como se pode dizer. Na maior parte dos casos não sucede isto: há em todo lugar da terra homens que esperam e que nem sabem por que esperam nem se esperam em vão. Às vezes o grito que os desperta chega demasiado tarde: aquela coincidência que lhes permite proceder sobrevém quando a juventude e suas faculdades ficaram destruídas pela longa espera: quantos viram com terror, ao levantar, que seus membros estavam paralisados, e o espírito pesava muito! "Muito tarde", disseram a si mesmos, como quem perdeu a fé em si mesmo e ficou inútil para sempre. Mas, no reino do gênio, o Rafael sem mãos não será a regra em lugar da exceção? O gênio talvez não é tão raro como se acredita; mas o raro são as quinhentas mãos necessárias para agarrar o Kairós, o momento oportuno para tiranizar, para aproveitar a ocasião.


Friedrich Nietzche, Além do Bem e do Mal, af. 274