Omar Ortiz |
Em perigo, a holotúria divide-se em duas: uma delas entrega-se à
à voracidade do mundo, a outra lhe escapa.
Desagrega-se de repente em perdição e salvação, em multa e em prêmio,
no que foi e no que será.
No meio do corpo da holotúria abre-se um abismo com duas margens
subitamente estranhas.
Numa a morte, noutra a vida.
Aqui desespero, alento ali.
Se houver uma balança, os pratos não oscilam,
Se houver justiça, aqui está.
Morrer quanto necessário, sem exceder a medida.
Crescer de novo quanto necessário a parte que se salvou.
É verdade, também nós podemos nos dividir.
Mas apenas em corpo e suspiro cortado.
Em corpo e poesia.
De um lado a garganta, do outro o riso,
leve, rapidamente sumindo.
Aqui um coração pesado, ali non omnis moriar,
três palavras apenas como três penas aladas.
O abismo não nos separa.
O abismo nos circunda.
Wislawa Szymborska