domingo, 3 de março de 2013

Sedução

Signe Vilstrup


A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.

Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.

Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.

Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço, 
fala pau pra me acalmar, 
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.

Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.

Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.

É de ferro a roda dentada dela.


Adélia Prado