sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A náusea - Jean-Paul Sartre





Logo, eu estava no parque público. De repente, tive uma iluminação um estalo e ficou tudo claro e cristalino a existência tinha se revelado, ela não era mais uma categoria abstrata e inofensiva. Era a própria substancia e a raiz das coisas.
As raízes, o banco do jardim, a relva escassa, tudo se desvanecia, a individualidade das coisas era apenas aparência um verniz. O verniz tinha desaparecido, eu via massas monstruosas e moles em desordem nuas, de uma assustadora obscenidade.
Se existíamos, era preciso existir a podridão a dilatação, a obscenidade. Em um outro mundo, círculos e árias de música, mantém linhas puras e fixas.
Mas nos atinge somo existentes, incomodados, envergonhados de nós mesmos sem razão de ser, todos nós existentes, confusos meio inquietos, como se fossemos demais e incomodássemos.
    Demais: É a única ligação que estabeleço entre as árvores, as grades, as pedras. E eu lânguido, obsceno acalentando pensamentos tristes, eu também era demais, as árvores flutuavam em direção aos céus, eu esperava que, a qualquer momento, seus troncos cansados se dobrassem até o chão e virasse uma massa só, elas não queriam existir, mas não podiam fazer nada quanto a isso, tinham que continuar, a seiva circulava a contragosto, lentamente as raízes entravam na terra, mas elas pareciam que iriam largar tudo e se aniquilar, cansadas e velhas, as árvores continuavam a existir de má vontade, por serem fracas demais para morrer. Por que a morte só poderia vir do exterior.
    Só acordes de música podem trazer orgulhosamente a morte em si mesmos como necessidade intrínseca.
    “Tudo que existe nasce sem motivo se prolonga por fraqueza e tem um encontro com a morte, o essencial e a contingência, por definição, a existência não é necessária, existir é apenas” estar lá” Os existentes aparece, se deixam encontrar, mas não se pode nunca deduzi – los”.
Tudo é gratuito: este jardim, esta cidade e eu próprio. Quando a gente se dá conta disso o coração fica pesado e tudo começa a rodar.
    Fiquei no banco perplexo, achatado por essa profusão de seres sem origem, por toda parte, desabrochamentos, minhas orelhas fervilhavam de existência, minha própria carne palpitava, pulsava e se abandonava à germinação universal. Era repugnante.

                     
Jean-Paul Sarte, A Náusea